segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Milho de pipoca!

Acho essa data do ano propícia para reflexões. Esse texto do Rubem Alves ótimo para pensarmos:

Milho de Pipoca
 
A transformação do milho duro em pipoca macia é
símbolo da grande transformação por que devem passar
os homens para que eles venham a ser o que devem ser.
O milho de pipoca não é o que deve ser.

Ele deve ser aquilo que acontece depois do
estouro. O milho de pipoca somos nós: duros,
quebra-dentes, impróprios para comer.

Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua
a ser milho de pipoca, para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações
acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo
fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice
e uma dureza assombrosas. Só elas não percebem.

Acham que o se jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas,
de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança
numa situação que nunca imaginamos. Dor.

Pode ser o fogo de fora: perder um amor,
perder um filho, ficar doente, perder o emprego, ficar pobre.
Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão,
sofrimentos cujas causas ignoramos.

Há sempre o recurso do remédio. Apagar o fogo.
Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a
possibilidade da grande transformação.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá
dentro ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora
chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si
mesma, ela não pode imaginar destino diferente.

Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada.
A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio,
pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela
aparece como uma outra coisa completamente diferente que ela
mesma nunca havia sonhado.

Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São
aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente se recusam a
mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa
do que o jeito delas serem.

A sua presunção e o medo são a dura
casca que não estoura. O destino delas é triste. Ficarão duras
a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia.
Não vão dar alegria para ninguém.

Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela
ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.

E você, o que é? Uma pipoca estourada ou um piruá?


Eu, com certeza, quero ser uma pipoca estourada!

Desejo a todos uma excelente semana!

Beijos
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