No dia 18 de junho de 2010 perdemos o grande escritor, argumentista, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português, José Saramago. Como disse Fernando Meirelles, o mundo ficou mais burro e cego nesse dia.
Apesar de Saramago não ter tido boas condições, o seu interesse pelos estudos e pela cultura o fizeram chegar longe. O seu primeiro emprego foi como serralheiro mecânico, mas à noite, devido à sua paixão pelos livros, visitava com frequência a Biblioteca Municipal da sua cidade.
Aos 25 anos publicou o seu primeiro romance, Terra do Pecado. Nesse mesmo ano, nasceu sua filha. Depois de publicar o seu primeiro livro, sua carreira como escritor deslanchou.
Uma das obras do autor que mais me encanta é Ensaio sobre a cegueira. Acho o texto forte, mas como diz o próprio Saramago, os leitores precisam sofrer tanto quanto ele sofreu ao escrever o livro.
A obra é uma crítica aos valores sociais e expõe o caos a que chega uma sociedade cega, que se nega a enxergar que não são bons. A narrativa leva-nos a refletir sobre a moral, a ética, os costumes, os valores e os preconceitos.
É um livro de leitura extremamente difícil. Eu mesmo confesso que sofri ao lê-lo, mas depois que consegui compreender a mensagem que o autor queria transmitir com esse livro, apaixonei-me.
Um dos motivos dessa difícil leitura é que o tempo não é linear, mas o que mais dificulta são as falas entre as vírgulas, pois isso força o leitor a um verdadeiro mergulho em suas ideias, sem tempo para pausas e reflexões.
Um detalhe importante do livro é que os personagens são caracterizados por suas peculiaridades e não por nomes.
Nas últimas linhas, Saramago brinca com a imaginação dos leitores, deixando implícita a cegueira daquela que foi a única que viu em meio à treva branca, justamente no momento em todos recuperam, aos poucos, a visão.
Bom, pelo pouco que escrevi dá para perceber a intensidade da obra. Mas, acho que quem se dispõe a ler um livro do Saramago, tem que estar preparado para mergulhar no seu estilo: características de linguagem oral, períodos longos, pontuação utilizada de maneira não convencional, diálogo nos próprios parágrafos.
Quem se habitua ao seu estilo, acha a leitura muito mais agradável. O seu modo de escrever pode ser comparado à eloquência oral do povo português. Muitos críticos o consideram um mestre no tratamento da língua portuguesa. Todas as suas características torna-o único na literatura contemporânea.
Em 1998, Saramago recebeu a distinção máxima oferecida aos escritores da língua portuguesa: o Nobel da Literatura. Devemos ressaltar que ele foi o primeiro e único, por enquanto, escritor português a receber esse prêmio.
Uma das características mais marcantes e discutidas do autor é o fato de ele ser “ateu”. Em suas obras, o autor sentia uma necessidade muito grande de abordar a bíblia. A interpretação que José faz da bíblia é que ela é um “manual de maus costumes”. Mas, ao contrário do que muitos pensam, ele estimula a leitura à bíblia. O problema é que, na verdade, ele quer ter apenas o direito de expressar a sua opinião.
O último romance do escritor foi “Caim”, publicado em 2009. Este também foi alvo de críticas da Igreja Católica por conta da sua visão pouco ortodoxa do Velho Testamento.
Sei que muitas pessoas não gostam do autor pelo fato de ele ser ateu e de ser contra a Igreja Católica. Acho que devemos saber dividir as coisas, religião é um assunto que não precisa e não deve ser discutido. Eu, como católica, acho que cada pessoa tem as suas crenças e não merece ser julgada por isso.
Bom, eu demorei um pouco para escrever sobre essa grande perda, pois não queria fazer apenas um texto simples falando sobre o autor. O que eu mais queria mostrar à vocês é a complexidade do Saramago. Espero que eu tenha conseguido.
Vocês já leram alguma obra do autor? Ficou clara a essência e o estilo de escrever de José Saramago?
Se vocês tiverem alguma sugestão para acrescentar ao post ou alguma dúvida, farei o possível para ajudá-los, é só comentar.
Beijos.
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